De ‘Ainda Estou Aqui’ a ‘Que Horas Ela Volta?’: O Cinema como Ferramenta de Impacto Social

Lia Xan
Lia Xan 5 Min Read
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O cinema tem o poder de ir além do entretenimento, e filmes como ‘Ainda Estou Aqui’ e ‘Que Horas Ela Volta?’ são exemplos claros de como a sétima arte pode provocar impactos sociais significativos. O longa de Walter Salles, aclamado pela crítica, não apenas conquistou o público, mas também reacendeu debates importantes sobre a história recente do Brasil. A obra se tornou um marco, unindo elogios de diferentes espectros políticos e gerando reflexões profundas sobre a ditadura militar e suas consequências.

Ao levar milhões de brasileiros de volta às salas de cinema, Salles conseguiu emocionar e provocar discussões que antes eram tratadas com cautela. O impacto do filme foi tão grande que chegou a inspirar discursos de líderes políticos e a influenciar debates em instâncias de poder. A forma como a obra aborda a história do país fez com que o tema da ditadura militar fosse discutido de maneira mais aberta, desafiando narrativas que tentavam minimizar sua importância.

A relevância de ‘Ainda Estou Aqui’ foi reconhecida até mesmo no Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Flávio Dino citou o filme em uma decisão relacionada à Lei da Anistia de 1979. Essa citação trouxe à tona a discussão sobre a ocultação de cadáveres como um crime permanente, que continua a violar o direito à verdade e à memória das vítimas. O Instituto Vladimir Herzog, que atuou como amicus curiae na ação, destacou a importância de se reconhecer a verdade histórica para que as famílias possam finalmente fazer seu luto.

Assim como o filme de Salles, outras produções ao redor do mundo também têm gerado mudanças sociais significativas. O cinema, quando utilizado como uma ferramenta de conscientização, pode ampliar discussões que antes eram restritas a círculos intelectuais. Essas obras têm o potencial de provocar transformações concretas na sociedade, reforçando o papel do cinema como um agente de mudança.

Um exemplo marcante é o filme ‘The Day After’ (‘O Dia Seguinte’), lançado em 1983 durante a Guerra Fria. A produção retratou uma realidade distópica em que os Estados Unidos enfrentavam as consequências de um ataque nuclear. O impacto do filme foi tão profundo que o presidente Ronald Reagan assistiu à produção antes de sua estreia e ficou profundamente tocado, influenciando as negociações sobre o controle de armas nucleares.

Outro filme que teve um impacto social significativo foi ‘Milk: A Voz da Igualdade’, que retratou a vida de Harvey Milk, um político gay que lutou pelos direitos civis da população LGBTQIAPN+. Estrelado por Sean Penn, o filme se tornou um manifesto político em um período em que os direitos civis estavam sob ataque. A obra ajudou a galvanizar o movimento pelos direitos LGBTQIAPN+ e a conscientizar a sociedade sobre a importância da igualdade.

No Brasil, o cinema também desempenhou um papel crucial na promoção de debates sociais. O filme ‘Que Horas Ela Volta?’, protagonizado por Regina Casé, abordou os conflitos sociais e culturais que surgem com a melhoria das condições de vida da classe trabalhadora. A obra expôs a visão preconceituosa da classe média sobre o trabalho doméstico, contribuindo para a regulamentação da PEC das Domésticas, que equiparou os direitos das empregadas domésticas aos dos demais trabalhadores.

Além disso, ‘Pixote: A Lei do Mais Fraco’, de Hector Babenco, chocou a sociedade brasileira ao retratar as condições de vida de crianças em situação de rua. O filme gerou uma forte reação na época de seu lançamento e ajudou a fortalecer o debate sobre a necessidade de políticas públicas voltadas à proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Essas obras mostram que o cinema pode ser uma poderosa ferramenta de transformação social, capaz de influenciar a percepção coletiva e promover mudanças significativas.

Em resumo, o cinema é uma forma de arte que pode influenciar o debate público e gerar mudanças sociais relevantes. Filmes como ‘Ainda Estou Aqui’ e ‘Milk: A Voz da Igualdade’ demonstram que a sétima arte pode ser mais do que entretenimento; ela pode ser uma ferramenta estratégica para esclarecer fatos históricos e manter a sociedade alerta contra a opressão. A capacidade do cinema de provocar reflexões e discussões é um testemunho de seu papel vital na construção de uma sociedade mais justa e consciente.

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