Cigarro eletrônico se espalha entre jovens e preocupa especialistas da saúde pública

Lia Xan
Lia Xan 6 Min Read
6 Min Read

O cigarro eletrônico tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil, especialmente entre os jovens, mesmo sendo um produto proibido pela legislação sanitária. Conhecido como vape ou pod, o dispositivo é apontado por especialistas como um novo desafio para a saúde pública. Dados recentes mostram que o número de usuários de cigarro eletrônico cresceu 600% em apenas seis anos, alcançando quase 3 milhões de consumidores entre 18 e 64 anos. Essa expansão acelerada acendeu o alerta entre médicos, pesquisadores e autoridades de saúde, que vêm acompanhando com preocupação a adesão crescente ao cigarro eletrônico, sobretudo entre adolescentes.

A popularidade do cigarro eletrônico entre adolescentes é alarmante. Um levantamento do IBGE revelou que um em cada seis jovens de 13 a 17 anos já experimentou o dispositivo pelo menos uma vez. Já na faixa entre 15 e 24 anos, o cigarro eletrônico representa 70% do consumo entre os usuários. A ausência de fumaça e o odor discreto facilitam o uso do cigarro eletrônico em ambientes onde o fumo é proibido, tornando sua detecção mais difícil e ampliando o alcance da substância entre os mais jovens. Especialistas ressaltam que essa acessibilidade e a aparência inofensiva contribuem para criar uma falsa sensação de segurança no uso do cigarro eletrônico.

Ainda que o cigarro eletrônico seja visto por alguns como alternativa para parar de fumar, o relato de usuários mostra o efeito contrário. Muitos acabam aumentando o consumo de nicotina, o que pode intensificar a dependência. A jovem Laura Beatriz, que começou a usar cigarro eletrônico na tentativa de abandonar o cigarro tradicional, viu sua saúde se deteriorar ao longo do tempo. Ela acabou desenvolvendo câncer de pulmão e teve que passar por uma cirurgia que comprometeu parte do órgão. Casos como o de Laura reforçam a gravidade dos riscos associados ao uso prolongado do cigarro eletrônico, contrariando o discurso de que ele seria uma alternativa menos nociva.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária mantém desde 2009 a proibição da comercialização do cigarro eletrônico no Brasil. Em 2024, a medida foi reafirmada após uma revisão técnica que envolveu pareceres de especialistas nacionais e internacionais. A Anvisa identificou que o cigarro eletrônico representa uma porta de entrada para o vício em nicotina, inclusive abrindo caminho para o uso do cigarro convencional. A agência também apontou que a propaganda voltada ao público jovem e a facilidade de acesso aumentam o risco de iniciação precoce ao tabagismo, contrariando décadas de avanços no combate ao fumo no país.

Mesmo diante da proibição, um projeto de lei em tramitação no Senado busca regulamentar a venda e a importação do cigarro eletrônico no país. A proposta é defendida por representantes de entidades que alegam a redução de danos como argumento para legalizar o dispositivo. No entanto, médicos e estudiosos rebatem essa tese. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia, não há evidências científicas suficientes que comprovem a eficácia do cigarro eletrônico como ferramenta para tratamento do tabagismo. Ao contrário, a literatura médica aponta que a substituição de um vício por outro apenas perpetua os riscos à saúde.

O cigarro eletrônico não está isento de substâncias prejudiciais. Muitos produtos contêm nicotina sintética ou extratos derivados do tabaco, além de aromatizantes e solventes cuja toxicidade ainda está em estudo. A inalação desses compostos pode causar danos aos pulmões e ao sistema cardiovascular, além de aumentar a suscetibilidade a doenças respiratórias crônicas. O formato moderno e os sabores atrativos tornam o cigarro eletrônico especialmente sedutor para adolescentes, o que contribui para o seu uso indiscriminado. Essa combinação de fatores é considerada extremamente perigosa por médicos e pesquisadores da saúde pública.

A explosão do consumo de cigarro eletrônico no Brasil reflete um fenômeno global. Países como Estados Unidos e Reino Unido também enfrentam um crescimento expressivo no uso desses dispositivos entre os jovens. Em alguns casos, surtos de doenças pulmonares relacionadas ao vape levaram a medidas emergenciais de restrição. No Brasil, a falta de fiscalização eficiente dificulta o controle do comércio ilegal do cigarro eletrônico, permitindo que o produto continue circulando livremente nas ruas, lojas virtuais e redes sociais. Especialistas alertam para a urgência de políticas públicas mais eficazes que combatam esse avanço silencioso.

Diante desse cenário, o cigarro eletrônico se consolida como um dos maiores desafios para a saúde coletiva na atualidade. O discurso de redução de danos precisa ser confrontado com dados científicos sólidos e relatos reais de vítimas dos efeitos nocivos desses dispositivos. O apelo entre os jovens, a facilidade de acesso e a falsa ideia de segurança criam um ambiente propício para a expansão do uso. Combater a normalização do cigarro eletrônico exige não apenas ações regulatórias, mas também campanhas de conscientização e educação que envolvam famílias, escolas e instituições de saúde.

Autor: Lia xan

Share This Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *